Fim do imposto sindical:
faxina em sindicatos de fachada ou negociações fragilizadas?
Força Sindical é contra a extinção do tributo,
enquanto CUT quer mais tempo para debate.
CNI propõe retirada gradual do imposto para
adaptar-se à mudança
São Paulo
25 ABR 2017
Sindicalistas
em ato no Rio de Janeiro em novembro. Fernando Frazão Agência Brasil
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A reforma trabalhista, que muda mais de cem pontos da Consolidação das Leis de Trabalho (CLT), deve ser votada nesta terça, após ter entrado em regime de urgência
na última quarta-feira. Entre as principais alterações propostas pelo
relator da proposta, Rogério Marinho (PSDB-RN), está a prevalência das negociações de alguns
pontos entre patrões, empregados e sindicatos em relação ao que está escrito
na lei – o que poderia fortalecer acordos coletivos – , mas, também, o polêmico
fim da contribuição sindical obrigatória. O tema é bastante criticado pelas
principais centrais, que afirmam que essa medida irá afetar a saúde financeira
dos sindicatos, podendo enfraquecê-los.
O texto elaborado por Marinho quer alterar a
contribuição sindical e torná-la facultativa. Hoje, o pagamento, que equivale a
um dia de trabalho, é obrigatório e vale tanto para os empregados
sindicalizados quanto para os que não são associados às entidades de classe.
Pela lei atual, a contribuição, criada na década de 1940, deve ser descontada
pelos empregadores na folha de pagamento dos empregados no mês de março de cada
ano.
Segundo o relator, a medida proposta na reforma
visa acabar com os sindicatos de "fachada e pelegos". "Temos
17.082 sindicatos, enquanto a Argentina tem 100. E a grande maioria dos
nossos não tem representatividade. Existe um da indústria naval no Macapá (no
Amapá) e lá não tem mar. Há uma montanha de 3,6 bilhões de reais que é
destinado aos sindicatos sem fiscalização do Tribunal de Contas da União",
critica o deputado. Para o relator, a proposta de tornar a contribuição
facultativa irá fortalecer os sindicatos que realmente lutam por acordos e
convenções coletivas. "Os que realmente defendem o interesse de
trabalhadores e empresário certamente serão financiados por seus associados, os
que não tem condição vão desaparecer", defende Marinho.
Grande parte do movimento sindical, no entanto,
rebate a medida. A Força Sindical alega que, sem a manutenção da contribuição
obrigatória, as entidades serão enfraquecidas, assim como o poder de negociação
dos trabalhadores. Sérgio Leite, secretário da Força Sindical, ressalta que os
acordos coletivos não representam apenas os filiados, mas toda a categoria.
"Por isso entendemos que todos os trabalhadores devem contribuir com a
estrutura sindical ou da federação. No conjunto dos sindicatos essa
contribuição é essencial para a existência desse setor", explica. Segundo
o secretário, a arrecadação desse dinheiro representa de 40% a 50% da receita
de um sindicato de médio porte, mas pode representar até 80% da receita de um
de pequeno porte.
Os recursos da contribuição sindical não vão,
entretanto, apenas para os sindicatos. Atualmente, esse dinheiro é distribuído
da seguinte forma: 60% para os sindicatos, 15% para as federações, 5% para as
confederações e 20% para a chamada “conta especial emprego e salário”, do
Ministério do Trabalho. Uma das entidades que recebem recursos dessa conta
especial é o Fundo de Amparo do Trabalhador (FAT), que custeia programas de
seguro-desemprego, abono salarial, financiamento de ações para o
desenvolvimento econômico e geração de trabalho, emprego e renda.
Além dos empregados, os patrões também devem pagar,
todos os anos, a Contribuição Sindical Patronal. O pagamento do imposto é
proporcional ao capital social da empresa. As alíquotas aplicadas variam de
0,02% a 0,8%. Essa contribuição, que também é obrigatória, deve se tornar
facultativa segundo o relator do projeto.
Quintino Severo, secretário de Finanças da Central
Única de Trabalhadores (CUT), diz que a organização sindical é favorável ao fim
da contribuição obrigatória, mas que não está de acordo com a maneira que a
proposta de reforma trabalhista está tratando o tema. "Sempre tivemos uma
posição histórica sobre esse tema. Entendemos que esse modelo que vem desde
1943 incentiva o sindicato de fachada, mas o que queremos é que essa contribuição
seja decidida por meio de assembleia, democraticamente. E isso não está claro
no projeto do relator", explica.
Também a favor do fim da contribuição sindical
obrigatória, mas a longo prazo, o presidente da Confederação Nacional da
Indústria (CNI), Robson Andrade, defende que esse imposto seja eliminado de
maneira gradual e que não termine de uma hora para outra. O objetivo seria dar
tempo para que sindicatos, tanto os de trabalhadores quanto os patronais, se
adaptem ao fim dessa fonte de dinheiro.
Ciente do tamanho da polêmica gerada em torno do
tema, e confiante de que conseguirá angariar os votos para passar a reforma, o
presidente Michel Temer já disse, no início do mês, que
pensará numa alternativa de financiamento aos sindicatos caso o imposto
sindical seja extinto. "Há uma tendência fortíssima para acabar com a
contribuição sindical. Se realmente for eliminada, depois verificamos uma
fórmula, mais pra frente, pela qual possamos estudar, de um suporte financeiro
para os sindicatos", disse em entrevista à TV Bandeirantes.
"Pensaremos num acordo para que seja metade de um dia. Ou um terço. Uma
coisa que dê sustentação ao sindicato", completou.
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