quinta-feira, 27 de março de 2014

MEDIAÇÃO E ARBITRAGEM É JUSTIÇA POPULAR

ESCRITÓRIO PARTICULAR DE MEDIAÇÃO E ARBITRAGEM  - CONSULTORIA ON DEMAND

Mediar um conflito entre pessoas ou empresas é, no resultado final, agilizar e baratear as relações da sociedade. O Brasil é signatário dos acordos internacionais de mediação e arbitragem há dezenas de anos.



Em diversas situações, nos últimos vinte anos, temos deparado com empresas que vem a Carajás ou o sudeste do estado do Pará, buscar desenvolvimento e crescimento econômico e retornam no prejuízo, em dividas impagáveis e centenas de ações trabalhistas ou até com ameaça perene a sua integridade moral e financeira. Os custos são monstruosos. As regras de contratação, absurdas. Os contratos de serviços ilegíveis ou inaceitáveis. Para se obter algum sucesso se coloca a necessidade de uma logística perfeita e pouco sujeita a falhas. No mais, tudo contribui para a possibilidade de fracassar trabalhando para a VALE nesta região. Sob a luz do investimento, o retorno histórico é asiático: 3% em media. Líquidos. Isto significa que num contrato de 100 milhões, seu retorno final terá sido de 300 mil. Vale a pena?



GENTE NO CENTRO DO PROCESSO
O que temos observado é um erro recorrente de gestão, quando da escolha do pessoal que vai liderar a implantação da empresa na região. Já deparamos com gerentes que apostavam que iriam mudar a cidade com sua forma de administrar um contrato. Sua empresa, uma grande construtora de Belo Horizonte, saiu daqui em litígio com a  VALE e com sérios problemas de imagem com a população em geral. Ele nunca soube o que estava falando. As empresas decididamente não mandam os melhores para o interior bravo do Pará. É este seu mais grave erro. Para nossa região devem vir os melhores, os que não tem medo de ousar, os que entendem de custos e os que tem capacidade e experiência em negociação, planejamento e execução de obras ou projetos.

CUSTOS. CUSTOS, CUSTOS
Quando falamos em custos, estamos conscientes que décadas de correção monetária e os famigerados indexadores, nos desnorteou quanto a raiz dos custos de operação e os custeios. É preciso aplicar aos contratos VALE em Carajás e Região, os princípios econômicos e contábeis de CUSTOS operacionais correntes, pré-operacionais, imobilizações patrimoniais, aplicação de recursos e resultado por centro de custo. É preciso operar com grande capacidade bancaria, preferivelmente com linhas de baixo custo e longo prazo e ter o conselho de administração informado sobre as operações. Nestes vinte anos acompanhamos as perdas financeiras  e sociais que centenas de grandes empresas tiveram nesta cidade. Empresas bem administradas e sucesso na Bovespa, mas que perderam rios de dinheiro e prestigio ao investir na prestação de serviços nas minas de Carajás e região. Fomos consultores no caso BIOAGRO, terceirizada da gigante OAS. Ambas amargaram prejuízos localmente, em operações de supressão  vegetal no projeto Salobo. Faltou gestão, a ponto da OAS adiantar recursos sobre serviços que nunca seriam realizados, por total incapacidade gerencial e operativa da BIOAGRO. Para ilustrar, a OAS solicitou a mobilização de 200 equipamentos de terraplenagem e a contratação de outra centena de operadores que nunca saiu do papel.  Montada a estrutura, a contratada ficou esperando  pela ordem de serviço por noventa dias. Nunca veio, e a BIOAGRO perdeu todo o recurso mobilizado. Responde até hoje a centenas de ações trabalhistas do período, ainda de 2008/2009. Pagou caro, com este episodio contribuindo enormemente para sua concordata e conseqüente liquidação de ativos.

CONTRATO DE SERVIÇOS VALE
É difícil entender uma empresa do porte da VALE e com o tremendo papel social obrigado, ter um contrato de serviços tão ruim e particular. Quem lê, não assina. As empreiteiras que se propõem vir ao Pará, precisam entender melhor este contrato, não para contradizer a VALE, senão não ganharão as obras, mas para se prevenir, contabilizar os provisionamentos e preparar para as contra-ordens de parada, afiar a capacidade de negociação e estarem prontas para saírem o quanto antes do prejuízo final. Não se contesta a VALE, rompe-se. Negociadores de alto nível têm que ficar mobilizados para não deixarem passar do ponto de ruptura. Conhecemos casos de perdas de  10, 23, 70 milhões, por hesitar em se rescindir  contratos. É dinheiro sem retorno. Some-se a estas perdas o tempo e a possibilidade de desenvolvimento em outras frentes, neste momento que o país é um canteiro de obras e as oportunidades não faltam. Acreditamos que a solução para destravar este quesito seria a formação da ASSOCIAÇÃO DOS FORNECEDORES DA VALE, entidade de negociação e representativa de todas as empreiteiras. As negociações seriam conduzidas por este grupo, em todos os níveis. Seria como um sindicato, inclusive apontado para políticas sociais compartilhadas. Hoje temos a pressão dos trabalhadores, sem sindicatos, por melhores condições de trabalho. São novos custos que a empreiteiras assumirão sozinhas, haja visto a indisponibilidade da VALE em revisar contratos.

CUSTOS DE MOBILIZAÇÃO, TEMPO E CONDIÇÕES SALARIAIS
Os custos de mobilização, acrescido do fator tempo, é a raiz de todos os males que uma empreiteira vai passar aqui. Ganha-se a licitação. A composição dos preços tem que levar em conta a logística necessária. Se esta no sul, faça com valores do norte. Contrate nossos serviços para orientar na formação dos preços. Não adianta ganhar com o menor preço e não entregar ou perder dinheiro no processo. O tempo da mobilização até a ordem de serviços é, em media, de noventa dias. Conhecemos caso de empresas que perderam cento e vinte, cento e oitenta dias até. Não se pode subestimar as condições locais. Falta de tudo: os alugueis são altíssimos, o transporte caótico e absurdo, as regras de acesso a mina são duras, os exames pré-admissionais são múltiplos e repetitivos. A documentação da empresa, nos relatórios de segurança PPRA, PCMAT, PCMSO e demais, é exigência zero. Os custos de treinamento das RACs, as horas intinere, a fabricação dos uniformes, a adaptação dos veículos, os custos de montar escritório, contratar pessoas de confiança, analisar currículos, aplicar testes operacionais, monitorar documentação, contratar a supervisão técnica necessária, estabelecer os vínculos profissionais e sociais são consideráveis. Ainda, não se pode trabalhar em Carajás e região sem capacidade contábil e financeira para os provisionamentos contingenciais. Até o primeiro pagamento tudo  será bancado com recursos próprios. Até a primeira  medição não se fala em dinheiro.

 PRODUTIVIDADE
O maior agravante para a prestação de serviços na região norte é a produtividade local. Uma mao de obra acomodada, amplamente respaldada pelos escritórios trabalhistas, que transformam dias em meses, meses em anos e anos de serviço. A pratica da mina é fazer menos com mais. E não há mao de obra disponível, é preciso considerar, cada vez mais, trazer seus profissionais de sua sede. Apesar dos salários serem comprimidos na região, a baixa produtividade deixa as empresas em situação difícil para entregar seus contratos. É preciso considerar esta produtividade nas cotações e orçamentos apresentados a VALE. A própria rotatividade da mao de obra local gera custos que precisam ser provisionados.

VÍCIOS
Outro problema que afeta as empresas é a forma como se da as contratações. Pelas indicações pessoais, nunca se contrata os melhores e nem da tempo para as testagens e entrevistas. O próprio SINE local tem seu esquema de contratação, que até esta data é dominado por políticos locais. Mas, não há problemas com sindicatos. Eles são patronais, fazem acordos e não agitam as massas.

MOVIMENTAÇÃO SOCIAL
Neste momento estamos assistindo uma secção das massas em relação aos seus sindicatos. Os trabalhadores estão sistematicamente parando  a portaria da VALE em Parauapebas, reivindicando aumentos salariais e vantagens. Nos últimos meses, toda segunda feira tem greve na portaria. Cada semana uma empreiteira se quiser continuar seus contratos, tem que renegociar caso a caso, o acordo coletivo fechado anualmente com os sindicatos. Novos custos que não poderão repassar a VALE.

TERCEIRIZAR A GESTÃO DA MOBILIZAÇÃO
Uma solução para melhor gerenciar seus custos locais, é terceirizar sua mobilização, ou contratar uma supervisão e orientação locais a esta mobilização. Temos toda a experiência da EXCLUSIVA CONSULTORIA, com mais de  20 anos atuando no mercado local. Fomos por dezesseis anos, consultoria exclusiva da  INTEGRAL CONSTRUÇÕES E COMERCIO, a única empresa local que se certificou com a ISO e sobreviveu até os dias atuais. Todas as outras ficaram pelo caminho e de cada cinco empreiteiras, quatro perderam dinheiro aqui. Venha para Carajás, venham para o sul do Pará, onde estão as oportunidades. Mas não subestimem as condições especificas locais. Contrate nossos serviços.


terça-feira, 18 de março de 2014

Mais razão e menos emoção

Luca Maribondo
Começa a campanha eleitoral e surgem no seu rastro as indefectíveis pesquisas de intenção de voto. Estas se tornaram inarredáveis do processo eleitoral brasileiro em todos os seus níveis. DataFolha, Ibope e outros institutos de pesquisas se tornam palavras comuns do vocabulário do mais humilde e iletrado dos cidadãos brasileiros. Quase só se fala em pesquisa, ainda que faltem mais de dois meses para o pleito de outubro.
Mas dá pra gente confiar de fato nesses levantamentos? As pesquisas de intenção de voto têm cumprido uma dupla função. Por um lado, como instrumento de investigação da realidade, capaz de informar eleitores, políticos, partidos, orientando-os em suas decisões. Por outro lado, acobertadas pela imagem de trabalho científico, eles têm sido usadas para desinformar a opinião pública, visando à manipulação do voto. Como avaliar, porém, os resultados muitas vezes contraditórios que costumam ser publicados, para não ser enganado?
Há alguns anos, o sociólogo Gustavo Venturi, então diretor de operações do DataFolha, hoje sócio da Criterium Consultoria em Pesquisas, em artigo publicado sob o título "Como não ser enganado pelas pesquisas eleitorais", listava cinco cuidados básicos para compreender e avaliar corretamente esses levantamentos:
Confira o dia ou os dias em que as entrevistas foram feitas. Dependendo da agilidade do instituto e dos interesses de quem pediu o levantamento, entre a coleta dos dados e sua divulgação podem passar de um a dez dias ou mais. De acordo com o que acontecer nesse período —um debate entre os candidatos na televisão, o surgimento de uma nova candidatura, a veiculação de alguma denúncia contundente—, ao ser publicado o resultado pode já estar "velho", devendo ser relativizado;
Confira a amostragem da pesquisa. Não é raro se descobrir que um levantamento apresentado como nacional referia-se a uma pesquisa feita apenas em alguns Estados, ou só em capitais e regiões metropolitanas. Tratando-se de eleições presidenciais, nada mais falso! É o famoso gato por lebre. Não se faz uma boa amostra eleitoral hoje no Brasil, que conta com quase 5 500 municípios, em menos de cem cidades, distribuídas em todos os Estados e com eleitorados de todos os tamanhos;
Confira a formulação das questões aplicadas aos entrevistados. Além do risco de perguntas enviesadas, em qualquer momento de um processo eleitoral as respostas de intenção de voto espontâneas serão muito diferentes —e portanto incomparáveis— das respostas estimuladas por listas de candidatos;
Confira as credenciais de quem faz a pesquisa e os propósitos do cliente ou seja, quem paga pelo serviço. Procure saber qual o instituto que assina a pesquisa e quem a encomendou. Qualquer pessoa ou grupo tem o direito de fazer e divulgar pesquisas eleitorais. Tanto a qualidade técnica de um levantamento como o compromisso com a verdade dos profissionais nele envolvidos precisam ser comprovados. Ao tomar conhecimento de uma pesquisa eleitoral, informe-se sobre que instituto a fez e qual seu desempenho em eleições anteriores. Além disso, é bom checar quais são os vínculos de interesse entre quem fez e quem pediu a pesquisa, e qual dos dois a está divulgando. Uma pesquisa eleitoral encomendada por um candidato só será publicada se for do seu interesse, merecendo por isso ser lida com dupla precaução. O grau de isenção na divulgação de uma pesquisa, por sua vez, depende diretamente do grau de independência do meio de comunicação em relação aos políticos envolvidos. Muitas vezes esse grau é igual a zero: o político bem avaliado ou em ascensão é parente próximo, ou parceiro econômico em outros empreendimentos, quando não o próprio dono do veículo divulgador da pesquisa. Fique atento.
Veja o resultado da pesquisa com seus próprios olhos. Aprenda a ler os números. Dado que mesmo entre os poucos veículos de fato independentes a objetividade jornalística é uma utopia que nunca se realiza plenamente, recomenda-se aos telespectadores de todos os canais e aos leitores de todos os jornais que aprendam a ler os dados —as tabelas, os gráficos— por si mesmos. Esse é o único antídoto para não ser levado por interpretações distorcidas. Feito isto, exerça depois uma leitura crítica da interpretação que costuma acompanhar as pesquisas eleitorais e tire suas próprias conclusões.
E se o resultado de um levantamento for divulgado sem as informações necessárias para seguir as recomendações indicadas —que, aliás, não são tão fáceis assim de serem entendidas pelo cidadão comum— por Venturi? Neste caso, de três, uma: houve um descuido, tendo se descumprido tanto a legislação eleitoral como o código de ética que regula as atividades dos institutos de pesquisas de opinião e mercado; a ocultação de um ou mais desses dados foi deliberada, visando impedir uma avaliação correta do resultado da pesquisa para beneficiar ou prejudicar um ou mais candidatos envolvidos; a pesquisa que o candidato jura ter no bolso do colete, colocando-o à frente dos demais, indicando que vencerá já no primeiro turno, ou que seu adversário está despencando, se é que existe, foi tão "encomendada" que não passa por uma comparação crítica com outros levantamentos disponíveis.
Mas tem mais: as pesquisas de intenção de voto devem ser contextualizadas, isto é, devem ser avaliadas de acordo com o processo eleitoral em que estão insertas. Como são retratos do momento, seus resultados só devem tratados como uma fonte a mais de evidência no contexto analisado. Simplificando: as pesquisas eleitorais são perecíveis. Sua data de validade é determinada pelas variações da opinião pública.
Como a opinião das pessoas é dinâmica e responde aos estímulos que recebe, está sujeita a influências variadas —campanha, fatos inesperados, debates, o papo do botequim, as dicas dos amigos, a proximidade etc., até os diálogos das novelas—, as pesquisas devem sempre ser interpretadas dentro do contexto no qual foram realizadas.
E por se tratar de estatísticas e não números absolutos, toda pesquisa apresenta uma margem de erro que depende do tamanho da amostra estudada e dos resultados obtidos. Isso ocorre porque não é entrevistado todo o universo da população —aí, seria censo, não pesquisa—, mas apenas uma parte representativa deste. Trabalhando dessa maneira, há sempre um erro de amostra conhecido e calculado especificamente para cada pesquisa eleitoral.
Para uma mesma amostra, quanto maior a homogeneidade da população pesquisada, menor será o erro amostral e vice-versa. Por isso, não existe um erro amostral único e fechado para a pesquisa como um todo, pois em cada informação fornecida pela pesquisa há um erro correspondente. No caso das pesquisas eleitorais, esses erros são geralmente desiguais para os diversos candidatos em função da distribuição geográfica do eleitorado de cada um deles. A margem de erro comumente divulgada refere-se a uma estimativa de erro máximo, considerando-se um modelo de amostragem aleatória simples.


Desta maneira, os resultados de uma pesquisa devem ser interpretados dentro de um intervalo que estabeleça limites à estimativa obtida: o chamado intervalo de confiança. O intervalo de confiança é sempre pré-estabelecido antes do início da pesquisa, de comum acordo entre o cliente e o Ibope. Geralmente, fica em torno de 95%. Isso quer dizer que se uma pesquisa fosse realizada 100 vezes em 95 delas o resultado ficaria dentro da margem de erro.
O erro mais comum na leitura dos dados de uma pesquisa eleitoral é divulgar tendência de subida ou queda de determinada candidatura a partir de diferenças mínimas no resultado, que não caracterizam estatisticamente uma tendência. Só é possível chegar à conclusão que uma candidatura está crescendo ou caindo, se houver, pelo menos, três pontos consecutivos de aferição, com pelo menos três deles seguindo na mesma direção. Assim, para se dizer ou escrever com segurança que um determinado candidato cresceu ou caiu sem errar, é preciso analisar a evolução do seu desempenho dentro de uma série de pesquisas e não somente comparar, isoladamente, a pesquisa atual em relação à anterior.
Portanto, caro leitor/eleitor, qualquer que seja o caso, na ausência de informações recomenda-se prudência. Senão, você poderá ser enganado ou usado. Ao contrário do que imaginam alguns, a melhor maneira de controlar o mau uso de prévias eleitorais não é proibindo a divulgação, mas garantindo sua multiplicidade. A proibição apenas agravaria o desnível de informação entre os eleitores e os candidatos, que seguiriam encomendando seus próprios levantamentos. Já a proliferação de pesquisas eleitorais, apropriadamente divulgadas, permite ao eleitor compará-las e tirar suas próprias conclusões.
Se o cidadão brasileiro votasse com mais razão e menos emoção, procurando analisar profundamente o que representam e quem são realmente os candidatos, o que fizeram e disseram no passado, certamente o Brasil seria um país muito melhor. A vitória não está em ter votado no candidato vencedor, mas em ter a certeza de que votou de acordo com a sua consciência e com a sua ideologia.
Ou bem você é a favor de colocar na cadeia homens limpos —que usam até colarinho branco— e bem vestidos como Marcos Valério, Roberto Jefferson, professor Fernando Henrique Cardoso, João Paulo Cunha, o operário Lula da Silva, Silvio Pereira (o moço do Land Rover), José Dirceu, José Genoíno, Delúbio Soares, mensaleiros, sanguessugas e outros que tais—; ou prefere, como a maioria dos brasileiros, continuar lutando para que sejam presos apenas indivíduos das chamadas classes menos favorecidas da sociedade.

FONTE: http://casadomaribondo.blogspot.com

terça-feira, 11 de março de 2014

Gays, lésbicas e travestis pobres no Rio: entre a cruz e a espada

Ser gay, lésbica, bissexual, travesti ou transexual (LGBT) e, ainda por cima, pobre implica em uma situação de alto risco, como demonstra a espantosa realidade nas comunidades pobres do Rio e da Baixada Fluminense.


Uma reportagem intitulada "Gays são caçados nas favelas do Rio pelo tráfico e pela milícia", escrita pelo jornalista Mahomed Saigg para o “O Dia”, do Rio de Janeiro, no dia 5 de julho, deu nomes e rostos para uma realidade que, apesar de constantemente denunciada, muitas vezes é menosprezada: ser parte da comunidade LGBT neste país é sinônimo de situação de risco.

Um risco muitas vezes letal, como há décadas o Grupo Gay da Bahia vem denunciando através de pesquisas que demonstram que o Brasil detém o vergonhoso recorde de ser o país onde mais se matam homossexuais: desde 1980, já foram contabilizadas 3.300 mortes, o que significa que um membro da comunidade LGBT é assassinado a cada dois dias.

Ao contrário do que a propaganda oficial e as ilusões alimentadas por alguns setores do movimento nos querem fazer acreditar, a tendência não está diminuindo: em 2008, foram 189 assassinatos; em 2009, 198 mortes; e, em 2010, o número saltou para 254.

A "novidade", ainda mais sórdida, revelada pela reportagem (baseada em uma pesquisa feita pela ONG Conexão G, localizada na Maré) é que, nas comunidades empobrecidas, a comunidade LGBT está sendo cercada e brutalizada por todos os lados (pelas milícias paramilitares, pelos narcotraficantes e pelos agentes das malfadadas Unidades Pacificadoras), o que tem provocado uma situação ainda pior: todos os dias pelo menos um homossexual é agredido e muitos deles são mortos, literalmente, com requintes de crueldade.

O terrível quadro descrito pelo repórter foi baseado em relatos e histórias pra lá de reais. Cabe citar algumas delas.


"Estupro corretivo" para lésbicas: 
Vergonhosamente, são inúmeros os exemplos mundo afora de situações em que o estupro é utilizado como forma de “punição” ou "lição". Basta lembrar as barbáries do Vietnã, os horrores da Bósnia ou os absurdos praticados por fundamentalistas de vários credos religiosos.

Dentro da comunidade LGBT, há milhares de casos de mulheres que foram agredidas e violentadas "para aprenderem a ser mulher". Algo geralmente ainda mais violento (e não raramente fatal) no caso das mulheres negras, já que os machistas/racistas acreditam que particularmente estas mulheres devem ser punidas por não aceitarem o papel que o mundo capitalista lhes reservou: o de objetos sexuais.

Na reportagem, esta situação foi exemplificada por Patrícia, ex-moradora da Zona Sul do Rio que, durante oito meses, mudou-se para o Morro da Previdência para viver com sua namorada. Obrigada a sair da comunidade, Patrícia explicou o porquê da decisão: "Além de bater nos gays e travestis, os bandidos ficam ameaçando estuprar as lésbicas. Fazem um terror psicológico insuportável (...), dizem que a garota só se tornou homossexual porque não conheceu homens de verdade. E que darão ‘um jeito’."

Experiência semelhante foi vivenciada pela comerciante Jucyara Albuquerque, moradora de Mesquita, na Baixada Fluminense. Assumida desde os 16 anos, Jucyara tem um longo histórico de agressões: "Já sofri muito por causa da minha orientação sexual. Certa vez cheguei a ser espancada por dois homens que me agrediram enquanto eu trabalhava. Eles simplesmente chegaram, começaram a me xingar porque souberam que eu era lésbica e partiram para cima de mim. Fiquei com o corpo todo machucado".


A violência das ruas, na própria vizinhança:
Vitimadas pela discriminação, pelo preconceito e, consequentemente, empurradas para a marginalidade (inclusive para a prostituição), travestis são vítimas preferenciais da violência homofóbica. Dentre os 198 mortos em 2009, por exemplo, 72 (59%) eram travestis.

Além da situação vulnerável, da impossibilidade de se esconderem dentro dos "armários" e, muitas vezes, da falta de apoio de setores do movimento LGBT (que também não escondem seus preconceitos), travestis são utilizadas como "alvos" nas ruas e, como a reportagem demonstra, não encontram sossego nem em suas próprias casas.

É o que relata Marcela Soares, moradora da Favela do Timbau, na Maré e que (infelizmente como uma exceção à regra que expulsa travestis também das escolas) é formada em Moda. Afirmando que teve muitas amigas torturadas e perdeu outras tantas, assassinadas, Marcela constata: "Isso já está se tornando comum nas favelas. E a gente não pode fazer nada senão morre também".


Expulso, de novo, de casa: 
Ser expulso de casa é outra das experiências que fizeram e fazem parte da vida de milhões de LGBT’s. Em um ambiente mergulhado na violência institucional (das forças militares e policiais) e criminosa (dos narcotraficantes e das milícias), a forma de expulsão pode ser literalmente explosiva.

O professor Carlos (nome fictício), por exemplo, em 2007 viu sua casa, na Vila Cava (subúrbio carioca), ser incendiada e todos os seus bens consumidos pelo fogo: "Estava dormindo e acordei com a casa em chamas. O fogo já estava por toda parte (...) Na rua, havia várias pessoas que, mesmo com meus pedidos de ajuda, permaneceram de braços cruzados. Alguns até dizendo que ‘veado’ tinha que morrer mesmo".


"Veado tem que morrer!"

Já houve quem dissesse que o projeto das chamadas Unidades Pacificadoras que estão ocupando os morros cariocas é impor a “paz” através da eliminação (física, inclusive) de qualquer voz de protesto ou questionamento.

Algo evidente no caso dos LGBT´s, como exemplifica o relato do cabeleireiro Vando Silva, morador do Morro Santa Marta, ele próprio vítima da UPP: “Não aguento mais tanta repressão. Não consigo mais ser eu mesmo! Antes da ocupação, também tínhamos problemas, mas agora a situação piorou muito, porque com a polícia não tem conversa, estamos sempre errados. Eles me bateram porque disseram que ‘veado’ tinha que morrer”.

Ainda segundo o relato, se já é difícil para os moradores em geral denunciar as agressões e abusos, no caso de LGBT´s a situação é ainda pior, já que, além da tradicional recusa por parte das forças policias e da “justiça” em registrar os casos de homofobia, há o temor permanente de represálias.


Quanto o explorado também oprime...

Há uma crença de que o preconceito seja algo diferente nas comunidades mais pobres. Afinal, como as pessoas se movem por necessidades muito mais concretas (a sobrevivência, essencialmente), que demandam vínculos de solidariedade mais estreitos, não haveria tanto espaço para a discriminação.

Isto, no entanto, é apenas parte da realidade. Uma parte muito pequena, lamentavelmente. A verdade é que a homofobia corre solta, e a largos passos, nas comunidades pobres. E, por isso mesmo, tem que ser discutida e combatida.

O que, de forma alguma, significa perder a perspectiva de classe que está intimamente relacionada a toda esta história. Ou seja, o fato de gente pobre, majoritariamente negra, e, inclusive, mulheres discriminarem e atacarem homossexuais de sua própria classe não pode ser visto como uma “característica” da classe e muito menos como a principal fonte da homofobia.

As nefastas práticas relatadas pela reportagem são os resultados de séculos de propaganda ideológica feita pelos verdadeiros responsáveis por estes crimes: a classe dominante, seus meios de comunicação, suas escolas, suas instituições políticas e religiosas que, há séculos, “educam” a população a odiar, menosprezar e, se possível, eliminar gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais.

Por isso mesmo, por mais que seja urgente denunciar e combater a situação relatada, acima de tudo é necessário fazer um trabalho de esclarecimento e discussão política nestas comunidades, localizando a origem e as razões da opressão, identificando os verdadeiros inimigos (no caso, tanto as milícias, quanto as UPP´s e os narcotraficantes) e conquistando esta população para lutar, juntamente com todos os demais oprimidos e explorados contra o sistema que cria estas situações. Uma tarefa nada fácil. Mas fundamental, até mesmo porque de seu sucesso dependem as vidas de milhares de pessoas.


Entre a cruz e a espada, a única saída é a luta.

Analisando os dados, Gilmar Santos, presidente do Grupo Conexão G, que realizou a pesquisa, não tem dúvidas de que os números da violência podem ser muito maiores: “A opressão contra os homossexuais nas favelas vem aumentando a cada dia. Nas pesquisas de campo a gente descobre que a maioria dos casos não é registrada. E, mesmo quando as vítimas resolvem procurar a polícia, muitos preferem não revelar sua orientação sexual por temer mais violência”.

Diante dos números, o presidente do Grupo Gay da Bahia, Marcelo Cerqueira, ameaçou denunciar o governo brasileiro à Organização das Nações Unidas e à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, da Organização dos Estados Americanos, responsabilizando-o por aquilo que ele chamou de “homocausto” que está ocorrendo no Brasil.

Uma iniciativa prá lá de louvável, mas cuja eficiência todos nós conhecemos. Não só porque não temos a mínima confiança no compromisso da ONU no combate à opressão, mas também porque já sabemos o quanto o governo brasileiro está preocupado com o tema. Basta lembrar os destinos de dois de seus “projetos”, o “Brasil sem homofobia” e o “kit anti-homofobia”.

Por isso mesmo, a única saída é a luta. Tanto contra a “espada” impiedosa levantada pelas polícias, milícias, narcotraficantes e homofóbicos de todos os naipes, quanto a “cruzada sagrada” que, com a benção de Dilma, do Congresso e todas as instituições da classe dominante têm alimentado a homofobia que, agora, vemos explodir nas comunidades carentes do Rio.


Fonte: PSTU