Luca Maribondo
Começa
a campanha eleitoral e surgem no seu rastro as indefectíveis pesquisas de
intenção de voto. Estas se tornaram inarredáveis do processo eleitoral
brasileiro em todos os seus níveis. DataFolha, Ibope
e outros institutos de pesquisas se tornam palavras comuns do vocabulário do
mais humilde e iletrado dos cidadãos brasileiros. Quase só se fala em pesquisa,
ainda que faltem mais de dois meses para o pleito de outubro.
Mas
dá pra gente confiar de fato nesses levantamentos? As pesquisas de intenção de
voto têm cumprido uma dupla função. Por um lado, como instrumento de
investigação da realidade, capaz de informar eleitores, políticos, partidos,
orientando-os em suas decisões. Por outro lado, acobertadas pela imagem de
trabalho científico, eles têm sido usadas para desinformar a opinião pública,
visando à manipulação do voto. Como avaliar, porém, os resultados muitas
vezes contraditórios que costumam ser publicados, para não ser enganado?
Há
alguns anos, o sociólogo Gustavo Venturi, então diretor de operações do
DataFolha, hoje sócio da Criterium Consultoria em Pesquisas, em artigo
publicado sob o título "Como não ser enganado pelas pesquisas
eleitorais", listava cinco cuidados básicos para compreender e avaliar
corretamente esses levantamentos:
Confira
o dia ou os dias em que as entrevistas foram feitas. Dependendo da agilidade do
instituto e dos interesses de quem pediu o levantamento, entre a coleta dos
dados e sua divulgação podem passar de um a dez dias ou mais. De acordo com o
que acontecer nesse período —um debate entre os candidatos na televisão, o
surgimento de uma nova candidatura, a veiculação de alguma denúncia
contundente—, ao ser publicado o resultado pode já estar "velho",
devendo ser relativizado;
Confira
a amostragem da pesquisa. Não é raro se descobrir que um levantamento
apresentado como nacional referia-se a uma pesquisa feita apenas em alguns
Estados, ou só em capitais e regiões metropolitanas. Tratando-se de eleições
presidenciais, nada mais falso! É o famoso gato por lebre. Não se faz uma boa
amostra eleitoral hoje no Brasil, que conta com quase 5 500 municípios, em
menos de cem cidades, distribuídas em todos os Estados e com eleitorados de
todos os tamanhos;
Confira
a formulação das questões aplicadas aos entrevistados. Além do risco de
perguntas enviesadas, em qualquer momento de um processo eleitoral as respostas
de intenção de voto espontâneas serão muito diferentes —e portanto
incomparáveis— das respostas estimuladas por listas de candidatos;
Confira
as credenciais de quem faz a pesquisa e os propósitos do cliente ou seja, quem
paga pelo serviço. Procure saber qual o instituto que assina a pesquisa e quem
a encomendou. Qualquer pessoa ou grupo tem o direito de fazer e divulgar
pesquisas eleitorais. Tanto a qualidade técnica de um levantamento como o
compromisso com a verdade dos profissionais nele envolvidos precisam ser
comprovados. Ao tomar conhecimento de uma pesquisa eleitoral, informe-se sobre
que instituto a fez e qual seu desempenho em eleições anteriores. Além disso, é
bom checar quais são os vínculos de interesse entre quem fez e quem pediu a
pesquisa, e qual dos dois a está divulgando. Uma pesquisa eleitoral encomendada
por um candidato só será publicada se for do seu interesse, merecendo por isso
ser lida com dupla precaução. O grau de isenção na divulgação de uma pesquisa,
por sua vez, depende diretamente do grau de independência do meio de
comunicação em relação aos políticos envolvidos. Muitas vezes esse grau é igual
a zero: o político bem avaliado ou em ascensão é parente próximo, ou parceiro
econômico em outros empreendimentos, quando não o próprio dono do veículo
divulgador da pesquisa. Fique atento.
Veja
o resultado da pesquisa com seus próprios olhos. Aprenda a ler os números. Dado
que mesmo entre os poucos veículos de fato independentes a objetividade
jornalística é uma utopia que nunca se realiza plenamente, recomenda-se aos
telespectadores de todos os canais e aos leitores de todos os jornais que
aprendam a ler os dados —as tabelas, os gráficos— por si mesmos. Esse é o único
antídoto para não ser levado por interpretações distorcidas. Feito isto, exerça
depois uma leitura crítica da interpretação que costuma acompanhar as pesquisas
eleitorais e tire suas próprias conclusões.
E se o resultado de um levantamento
for divulgado sem as informações necessárias para seguir as recomendações
indicadas —que, aliás, não são tão fáceis assim de serem entendidas pelo
cidadão comum— por Venturi? Neste caso, de três, uma: houve um descuido, tendo
se descumprido tanto a legislação eleitoral como o código de ética que regula
as atividades dos institutos de pesquisas de opinião e mercado; a ocultação de
um ou mais desses dados foi deliberada, visando impedir uma avaliação correta
do resultado da pesquisa para beneficiar ou prejudicar um ou mais candidatos
envolvidos; a pesquisa que o candidato jura ter no bolso do colete, colocando-o
à frente dos demais, indicando que vencerá já no primeiro turno, ou que seu
adversário está despencando, se é que existe, foi tão "encomendada"
que não passa por uma comparação crítica com outros levantamentos disponíveis.
Mas tem mais: as pesquisas de
intenção de voto devem ser contextualizadas, isto é, devem ser avaliadas de
acordo com o processo eleitoral em que estão insertas. Como são retratos do
momento, seus resultados só devem tratados como uma fonte a mais de evidência
no contexto analisado. Simplificando: as pesquisas eleitorais são perecíveis.
Sua data de validade é determinada pelas variações da opinião pública.
Como a opinião das pessoas é
dinâmica e responde aos estímulos que recebe, está sujeita a influências
variadas —campanha, fatos inesperados, debates, o papo do botequim, as dicas
dos amigos, a proximidade etc., até os diálogos das novelas—, as pesquisas
devem sempre ser interpretadas dentro do contexto no qual foram realizadas.
E por se tratar de estatísticas
e não números absolutos, toda pesquisa apresenta uma margem de erro que depende
do tamanho da amostra estudada e dos resultados obtidos. Isso ocorre porque não
é entrevistado todo o universo da população —aí, seria censo, não pesquisa—,
mas apenas uma parte representativa deste. Trabalhando dessa maneira, há sempre
um erro de amostra conhecido e calculado especificamente para cada pesquisa
eleitoral.
Para uma mesma amostra, quanto
maior a homogeneidade da população pesquisada, menor será o erro amostral e
vice-versa. Por isso, não existe um erro amostral único e fechado para a
pesquisa como um todo, pois em cada informação fornecida pela pesquisa há um
erro correspondente. No caso das pesquisas eleitorais, esses erros são
geralmente desiguais para os diversos candidatos em função da distribuição
geográfica do eleitorado de cada um deles. A margem de erro comumente divulgada
refere-se a uma estimativa de erro máximo, considerando-se um modelo de
amostragem aleatória simples.
Desta maneira, os resultados de
uma pesquisa devem ser interpretados dentro de um intervalo que estabeleça
limites à estimativa obtida: o chamado intervalo de confiança. O intervalo de
confiança é sempre pré-estabelecido antes do início da pesquisa, de comum
acordo entre o cliente e o Ibope. Geralmente, fica em torno de 95%. Isso quer
dizer que se uma pesquisa fosse realizada 100 vezes em 95 delas o resultado
ficaria dentro da margem de erro.
O erro mais comum na leitura
dos dados de uma pesquisa eleitoral é divulgar tendência de subida ou queda de
determinada candidatura a partir de diferenças mínimas no resultado, que não
caracterizam estatisticamente uma tendência. Só é possível chegar à conclusão que
uma candidatura está crescendo ou caindo, se houver, pelo menos, três pontos
consecutivos de aferição, com pelo menos três deles seguindo na mesma direção.
Assim, para se dizer ou escrever com segurança que um determinado candidato
cresceu ou caiu sem errar, é preciso analisar a evolução do seu desempenho
dentro de uma série de pesquisas e não somente comparar, isoladamente, a
pesquisa atual em relação à anterior.
Portanto, caro leitor/eleitor,
qualquer que seja o caso, na ausência de informações recomenda-se prudência.
Senão, você poderá ser enganado ou usado. Ao contrário do que imaginam alguns,
a melhor maneira de controlar o mau uso de prévias eleitorais não é proibindo a
divulgação, mas garantindo sua multiplicidade. A proibição apenas agravaria o desnível
de informação entre os eleitores e os candidatos, que seguiriam encomendando
seus próprios levantamentos. Já a proliferação de pesquisas eleitorais,
apropriadamente divulgadas, permite ao eleitor compará-las e tirar suas
próprias conclusões.
Se o cidadão brasileiro votasse
com mais razão e menos emoção, procurando analisar profundamente o que
representam e quem são realmente os candidatos, o que fizeram e disseram no
passado, certamente o Brasil seria um país muito melhor. A vitória não está em
ter votado no candidato vencedor, mas em ter a certeza de que votou de acordo
com a sua consciência e com a sua ideologia.
Ou bem você é a favor de
colocar na cadeia homens limpos —que usam até colarinho branco— e bem vestidos
como Marcos Valério, Roberto Jefferson, professor Fernando Henrique Cardoso,
João Paulo Cunha, o operário Lula da Silva, Silvio Pereira (o moço do Land
Rover), José Dirceu, José Genoíno, Delúbio Soares, mensaleiros,
sanguessugas e outros que tais—; ou prefere, como a maioria dos brasileiros,
continuar lutando para que sejam presos apenas indivíduos das chamadas classes
menos favorecidas da sociedade.
FONTE: http://casadomaribondo.blogspot.com
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